quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A ESTRELA E A FLOR, Silva Ribeiro Filho

A ESTRELA E A FLOR, Silva Ribeiro Filho, 2007, 190 páginas, sem isbn



Logo que saiu meu livro “Os Tabaréus do Sítio Saracura” (2008), o radialista independente Ribeirão assumiu, voluntariamente, à minha revelia, a espinhosa missão de torná-lo conhecido. Então tive meu primeiro contato com a família Silva Ribeiro.

Fomos, Ribeirão e eu, sem marcar consulta, ao consultório do médico Marcelo, um dos membros da família de intelectuais. Ribeirão apregoara, era um grande poeta, cronista emérito, uma estrela influente no meio intelectual sergipano.  E seu conhecido. Mas não tinha laços de parentesco  com ele (Ribeirão), um caga-palácio, filho de Laranjeiras, de outros troncos ilustres. 

Achei que não devia ir, seria uma temeridade essa visita! Um médico no trabalho é muito ocupado e solicitado. Há pacientes, vendedores de remédios suficientes para encher seus horários. Não cabe mais nada. Quanto mais, divulgadores de livros, especialmente, de um livro desconhecido e escrito por um autor ainda mais.

Mas Ribeirão me puxava encabrestado, eu não tinha muito como refugar. Iria por bem ou na marra. Eu resmungava, ruminava mas estava dominado.

Esperamos um tempão sob o olhar severo de uma recepcionista zelosa. A ante sala lotada de pacientes impacientes fez-me arremeter de novo algumas vezes. Mas Ribeirão não me deixava arredar o pé, me segurava firme. Então, que seja o que Deus quiser!

A secretária,lá pelas tantas, mandou-nos entrar, finalmente.

Marcelo recebeu meu livro sem festa. Pouco conversa, de olho na porta, havia ainda muita gente lá fora esperando a vez.  Nem me deu ou ao Ribeirão, um obrigado, nem uma de suas obras que brilhavam numa estante à nossa frente, em retribuição.

Seria (Os Tabaréus do Sítio Saracura) mais um livro perdido?
Jamais seria lido, pensei comigo, ali incomodado.

Tive que puxar Ribeirão pelo rabo, criei ousadia, não havia jeito de ele encerrar o monólogo incompreensível que sustentava heroicamente.

E ainda veio me recriminando pelo caminho.

Sobre Wagner Ribeiro, um irmão de Marcelo, também famoso no mundo das letras, Adler Wiliam, meu cunhado e com boa penetração na alta sociedade, disse-me que era a melhor pena de Sergipe. Ao ser-me apresentado um dia, casualmente, mostrou-se agradável, dando-me um livro de poemas de sua autoria.

Tempos depois, conheci J. Ribeiro Neto, irmão de Marcelo e Wagner, e também escritor.  Ele ganhou prêmio na categoria romance, como eu, se bem que na categoria Crônicas, no último concurso literário promovido pela Secretaria de Cultura de Sergipe, em 2010.

Ainda há outros irmãos e primos que escrevem e publicam livros.

Como, em uma família, pode haver tantos intelectuais, publicando livros?

A resposta veio agora com este livro “A Estrela e a Flor” que recebi de presente de Wagner Ribeiro, tempos depois daquele primeiro encontro. Vem do berço, é a genética. Não adianta dizer que todos somos iguais. Nem ante a lei, especialmente diante desta.


Debrucei-me voraz nos poemas e na vida profícua desse Silva Ribeiro Filho, que é o pai dos três intelectuais mal apresentados acima. E é filho de José da Silva Ribeiro, que fez funcionar a  “Hora Literária do Santo Antônio” da qual nasceu a Academia Sergipana de Letras. Isso nos idos de 1929.

Acabei de ler o livro e estou me sentindo um privilegiado. Nesse fim de vida, pois me aproximo dos setenta, bebo sôfrego o melhor da literatura sergipana que, lamentavelmente, é pouco divulgada. Os livros são zelados no âmbito das famílias. Não há onde encontrá-los, nem nas bibliotecas públicas de precários acessos.

A “Estrela e a Flor” foi composto em segmentos bem definidos.

Primeiro aparecem os “Sonetos”, quarenta e oito. Alguns antológicos, e ainda hoje recitados nos saraus pela cidade.

O segundo segmento denomina-se: “Dora e Outros Poemas”, com nove composições, entre as quais (apenas um estrofe), “Aracaju de minha infância”:

“Minha cidade sonhadora e triste,
Areais... areais... paisagens doentias,
Mas aqui há coqueiros muito verdes,
Há noites cálidas e brancas
E um dilúvio de luz todos os dias”.

O terceiro chama-se “Pequenas Canções” com 16 composições. Eis a “Velhice”:

“És velho somente quando
Deixas de amar, pois amando
O coração tens em flor.

Velhice é trazer no peito,
Solitário, contrafeito,
Um coração sem amor.”   

Em seguida, vem as "Quadras" (quadrinhas, trovas). Bem trabalhadas, significativas:

Nem tudo que brilha é ouro...
Cuidado, moça, cuidado:
O santinho, no namoro,
Vira o capeta, casado”


E, por fim, o “Apêndice” onde são disponibilizados os seguintes textos:

1)      Prefácio da primeira edição (por Santo Souza)
2)      Um homem exemplar (Luiz Antônio Barreto)
3)      Carta (trecho) de Luiz Amoroso Lima
4)      Discurso de posse na ASL
5)      Discurso de recepção a Santos Souza
6)      Concurso de poesia centenário de Silva Ribeiro Filho


Por que a Academia Sergipana de Letras não mantem uma pequena livraria onde os sergipanos possam adquirir livros de seus imortais, especialmente os mortos?  Seria a maneira de acessarmos pérolas como essa “A Estrela e a Flor”.
E as livrarias da cidade?

Ora! Elas não conseguem nem expor os livros dos autores vivos sergipanos. E nem podem. São empresas comerciais precisam faturar para sobreviver. E os livros sergipanos vendem quase nada. Os nossos leitores, a maioria, preferem a literatura feita fora.Teria que ser mesmo a Academia ou outra entidade pública, que não sobreviva da venda desses livros.


(Escrito em julho de 2012 e revisando em setembro de 2016)